Análise da posição 2824
Nessa posição só reside um único genêro de mercadorias, qual seja, os óxidos de chumbo, haja vista que mínio e o mínio-laranja, também denominado vermelho de saturno, são óxidos de chumbo.
Há cinco óxidos estáveis de chumbo, isto é: subóxido (nome genérico dos óxidos de fórmula OM2, sendo M o símbolo de um metal que geralmente figura como bivalente) de chumbo (Pb2O); monóxido de chumbo, protóxido de chumbo ou litargírio ou ainda massicot (massicote, em português) (PbO); tetróxido de chumbo, tetróxido de trichumbo, chumbo vermelho ou mínio ou ainda, quando purificado, mínio-laranja (Pb3O4); sesquióxido de chumbo (Pb2O3) e o dióxido de chumbo (PbO2).
Segundo Mellor, Ohweiler e Hackhs, esses óxidos têm as seguintes particularidades:
a) Subóxido de chumbo. Obtido do oxalato de chumbo aquecido na presente do ar. Apresenta-se como um pó negro, que se decompõe pela calor, e é insolúvel em água;
b) Monóxido de chumbo. Há duas formas de monóxido de chumbo, conhecidas como massicote e litargírio. É produzido, em laboratório, pelo aquecimento do nitrato, carbonato ou hidróxido de chumbo. Já, industrialmente, ele é obtido pela oxidação do chumbo fundido, o que é feito por jatos de ar, em temperaturas superiores ao seu ponto de fusão. Obtém-se assim o litargírio, de cor vermelha intensa (chamado, por vezes, de monóxido vermelho de chumbo); todavia, se o aquecimento for mais cuidadoso, prevenindo dessa maneira a fusão, resulta numa outra forma de monóxido, de cor amarela, denominado massicote (às vezes denominada de monóxido amarelo de chumbo);
c) Tetróxido de chumbo. Obtém-se a partir do aquecimento cuidadoso, a 480ºC, do massicote por muitas horas. Ao esfriar adquire a coloração vermelho vivo. Decompõe-se quando aquecido fortemente, resultando em litargírio; reage com o ácido nítrico e daí produz nitrato e dióxido de chumbo; com o ácido clorídrico forma cloreto de chumbo e libera cloro livre;
d) Sesquióxido de chumbo. Tem a aparência de pó de cor amarela; surge como produto da reação entre hidróxido de chumbo e um agente oxidante (e.g., cloro, bromo ou hipocloritos), em maio alcalino; se aquecido, o sesquióxido de chumbo transforma-se em monóxido de chumbo e libera oxigênio;
e) Dióxido de chumbo. Surge da reação entre fortes oxidantes (e.g., hipocloritos e cloro) e monóxido de chumbo, apresentado em suspensão alcalina; trata-se de pó, de cor achocolatada, oxidante enérgico, que não é afetado pelos ácidos diluídos, mas reage com o ácido clorídrico concentrado, a frio e a quente, sendo que aqui nesta última situação libera cloro; reage com hidróxido de potássio, em solução aquosa concentrada e a ebulição, formando metaplumbato de potássio (K2PbO3).
As NESH dão lições apenas sobre o monóxido e o tetróxido de chumbo, embora quando o fazem destacam alguns outros compostos que se classificam na posição sob análise. Dentre esses compostos há uma menção ao alvaiade tido como “hidrocarbonato de chumbo”, o que é um equívoco na tradução das NESH do trechos: “lead or cerussite (lead hydrocarbonate)” ou “du plomb ou de la céruse (hydro-carbonate de plomb)”.
Explica-se melhor. O alvaiade (white lead) é o minério de chumbo denominado cerussita, que consiste de mistura de carbonato de chumbo (PbCO3) e “carbonato de chumbo associado a hidróxido de chumbo”, [2PbCO3•Pb(OH)2], que em inglês recebe a denonimação de “lead hydrocarbonate”. Assim, o alvaiade não é apenas “hidrocarbonato de chumbo” (sic), termo este impróprio (sugere-se carbonato hidratado de chumbo, com fórmula PbCO3•xH2O), mas uma mistura de moléculas de carbonato de chumbo anidro e de carbonato de chumbo hidratado, o que pode ser tomado como pura e simplesmente carbonato de chumbo. Em vista do exposto, nas NESH, o melhor é tomar alvaiade como carbonato de chumbo hidratado, com natureza alcalina, ao invés de “hidrocarbonato de chumbo.
As NESH a propósito dos óxidos de chumbo traz os seguintes ensinamentos (grifos para destacar):
Óxido de chumbo (monóxido de chumbo) (litargírio, massicote) (PbO). Oxidando o chumbo ou o alvaiade (Hidrocarbonato de chumbo) por aquecimento em contacto com o ar, obtém-se primeiramente o protóxido de chumbo não fundido ou massicote, que é um pó amarelo-claro; depois, quando a temperatura ultrapassa o ponto do vermelho-escuro, obtém-se o protóxido fundido, pó ou escamas amarelo-alaranjadas ou avermelhadas. A denominação litargírio abrange estes dois produtos, mas mais especialmente o segundo. Também se obtêm como subprodutos da extração da prata a partir dos chumbos argentíferos. O protóxido de chumbo emprega-se na indústria do vidro (fabricação de vidros de chumbo ou cristais), na indústria de esmaltes, na fabricação de fósforos, tintas, agentes sicativos, etc.
Tetróxido de trichumbo (Óxido salino de chumbo, mínio) (fórmula aproximada Pb3O4). Obtém-se a partir do monóxido de chumbo não fundido (massicote), é um pó muito denso (densidade de 8 a 9), tóxico, de cor vermelho-alaranjada. Por mínio-laranja (‘mine-orange’) designa-se, quer um mínio puríssimo, mais corado e menos denso do que o mínio comum, quer óxidos de chumbo contendo ainda carbonato de chumbo proveniente do alvaiade empregado na sua preparação. O mínio serve para cortar as outras cores (vermelho de Saturno), para preparar tintas contra ferrugem ou mástiques, para corar lacre e também como esmalte cerâmico. Emprega-se, mais usualmente do que o protóxido, na fabricação de cristal, strass e de vidros de óptica, por conferir ao vidro grande fusibilidade, brilho especial e considerável poder refringente.
Dióxido de chumbo (óxido pulga, anidrido plúmbico) (PbO2). Prepara-se tratando o mínio pelo ácido nítrico ou realizando a eletrólise do nitrato de chumbo. É um pó castanho insolúvel em água, que pode inflamar, por contacto, as matérias orgânicas. Como oxidante, emprega-se em pirotecnia; também se usa na fabricação de fósforos de segurança, na preparação de placas de acumuladores e, como mordente, na indústria têxtil. Este óxido anfótero dá origem aos plumbatos da posição 2841.
Não se pode encerrar a análise da posição 2824 sem antes comentar um erro, que se encontra grifado no parágrafo anterior, e que acreditamos crasso na tradução de “lead dioxide (puce oxide, plumbic anhydride)” ou “dioxyde de plomb (oxyde puce, anhydride plombique)” como “dióxido de chumbo (óxido pulga, anidrido plúmbico)”.
É certo que a palavra “puce” pode ser empregada como substantivo ou como adjetivo, tanto em inglês quanto em francês.
Em francês, “puce”, tomado como substantivo, significa pulga (do latim pulex) e “puce”como adjetivo significa, in verbis, “D’um rouge brun”, sendo que “brun” é “D’une couleur sombre résultant du mélange, par synthèse soustractive, des trois coloeurs primaires, avec prédominance du jaune et du rouge; marron foncé”. Assim, “puce” adjetivo é equivalente a “marrom escuro ou marrom carregado”.
As significações verificadas para o francês se repetem no inglês, assim, “puce” é, in verbis, “reddish-purple in colour”, ou na cor “vermelha-púrpura”.
Em vista do exposto “puce oxide”, em inglês, ou “oxyde puce”, em francês, se referem a cor do dióxido de chumbo e não a excrecência “óxido pulga”.
Cesar Olivier Dalston, www.dalston.com.br.
Fontes:
NESH;
MELLOR, Joseph William. Quimica Inorganica Moderna. Porto Alegre: Globo, 1967;
OHWEILER, Otto Alcides. Introdução à Química Geral, Porto Alegre, Editora Globo S.A., 1971;
HACKH’S CHEMICAL DICTIONARY (Ed. Julius Grant), Fourth Edition, New York, McGraw-Hill Book Company, 1972;
Le Petit Larousse Ilustré, Paris, Larousse, 2005 e
Oxford Advanced Learners, China, Oxford University Press, 2005.